Pataniscas e Roquenrole
Conhecemo-nos por causa de uma guitarra.
Já não me lembro com clareza se fui eu que lha vendi ou o contrário, a memória já não ajuda a esse detalhe, mas isso, afinal pouco importa.
O instrumento foi apenas o pretexto.
O verdadeiro acontecimento foi o encontro.
E, desde então, essa amizade afinou-se depressa.
Com naturalidade, como quem improvisa mas está em perfeita sintonia.
O Pedro é mais novo do que eu, mas com uma maturidade artística e humana que sempre admirei. Guitarrista de mão cheia, compositor, produtor, dono de um ouvido fino e de um entusiasmo contagiante. Mas não é só isso. É também formado em Gestão de Empresas, empreendedor desde cedo, eempresário de sucesso no sector da restauração - proprietário e gestor do restaurante Solar Moinho de Vento, no Porto, que está localizado junto ao Largo do Moinho de Vento, muito próximo da Praça Carlos Alberto, onde se serve comida portuguesa tradicional de excelência. Sou cliente habitual, não só pela qualidade da cozinha, mas porque o espaço, como tudo o que o Pedro cria, tem alma.
A nossa colaboração foi-se cruzando em vários momentos da vida. Ele chegou a ser meu aluno - mas desde o início que o nosso relacionamento foi sempre de partilha, de troca, de companheirismo criativo. Trabalhámos juntos em múltiplos contextos. Na antiga sala de ensaio que ele tinha no Palácio de Cristal - espaço por onde passaram muitos músicos, eu incluído. Mais tarde, gravámos no Estúdio Eléctrico, o estúdio que fundou no coração do Porto, mesmo ao lado da Leitaria da Quinta do Paço, na Praça Guilherme Gomes Fernandes.
Pequeno mas bem equipado, acolhedor, e acima de tudo - com ele ao comando - cheio de sensibilidade musical.
Participei, por exemplo, no disco da banda dele, Lobo. Toquei guitarra e também piano em duas músicas.Recordo-me de ter gravado esse piano no Boom Studios, do Pedro Abrunhosa, num piano de cauda maravilhoso, com o nosso amigo comum João Bessa ao comando. Usei também o estúdio do Pedro para a pré-produção de um dos meus discos, mais tarde gravado nos Slow Music Studios do Rui Veloso, com produção de Mário Barreiros.
Tivemos ainda um projecto conjunto, nos primórdios dos negócios online, quando isso ainda era quase terreno por explorar. Criámos uma página - Kendall Guitars - dedicada à venda de instrumentos usados de qualidade: guitarras, amplificadores, acessórios seleccionados. A ideia era oferecer um espaço digital alternativo, especializado, e usei até o estúdio do Pedro como palco para gravações de vídeos e conteúdos. A loja chegou a estar em movimento, mas por razões várias e imprevistos da vida, acabou por não se desenvolver como gostaríamos. Ainda hoje está activa no Facebook e no Instagram - sinais de mais uma das ideias que partilhámos.
Recentemente, quando decidi criar um canal de conteúdos e entrevistas no universo da música, tive também o desejo de fugir do lugar-comum dos guitarristas que publicam vídeos. Quis oferecer um entretenimento diferente, mais pessoal, mais humano com o foco na essência, a música, a criatividade, a melodia e a identidade artística. Um canal com conversas reais, com pessoas com experiência de vida e de música, mesmo que não sejam músicos profissionais. Pessoas interessantes: empresários, escritores, advogados, enólogos, pilotos - todos com uma relação verdadeira com a música.
E por isso, fez todo o sentido que o primeiro entrevistado fosse o Pedro Bessa. Não apenas por ser um amigo de longa data, uma presença constante na minha vida, mas também pelo seu perfil único: músico, guitarrista, produtor musical, empresário da restauração - alguém com um percurso invulgar, cheio de experiências e histórias para contar. Alguém que representa exactamente o tipo de convidado que eu procurava: alguém que vive com paixão, criatividade e autenticidade.
Esta crónica, e esta entrevista, são também uma forma de celebrar. De agradecer. De reconhecer o valor de quem caminha connosco ao longo dos anos - com quem criámos, sonhámos, ensaiámos, errámos, recomeçámos. O Pedro Bessa é, para mim, um desses raros companheiros de vida. E esta homenagem é mais do que merecida. Que venham mais encontros, mais projectos, mais conversas. E, claro, mais música.
Obrigado, Pedro !